Na estante da Porta19 – Nº18

9780713679281

Um must-have para todos os coleccionadores de camisolas de futebol, como o rapaz que vos escreve estas linhas. “True Colours: Football Kits from 1980 to the Present Day“, é uma obra da autoria de John Devlin, dividida por dois volumes que juntos chegam quase às 500 páginas repletas da história do futebol vista através de uma das formas mais visuais e fáceis de identificar: as camisolas oficiais dos clubes. Um inventário extenso (de 1980 a 2006) com todas as camisolas principais, alternativas e alternativas às alternativas!) dos principais clubes da Premier League inglesa e de muitos outros clubes ingleses que fizeram história num dos campeonatos mais emblemáticos da história do futebol, bem como um historial completo das selecções das ilhas britânicas. Uma viagem ao passado que vale bem a pena…e uma espécie de catálogo para os doentes. Como eu.

Sugestões de locais para compra do volume 1:

Sugestões de locais para compra do volume 2:

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The greatest scarf in the sky

FCP_meuclube

Tive a sorte de estudar no Porto, perto da família, dos amigos e daqueles pedaços de nada que damos como garantidos e sem os quais sentimos que algo está mais distante, ausente do coração e da convivência diária dos lugares-comuns que nos trazem o conforto que precisamos nas piores alturas. E tive também a sorte de poder começar a trabalhar fora da minha zona de conforto, seguindo para fora do país, regressando mais tarde à base de onde saí e que tanto me deu. E em todo esse percurso já feito e tanto que ainda por aí há-de vir, houve muita gente que me marcou pela forma de ser ou pelo simples facto de ter estado no sítio certo no lugar certo.

Uma dessas muitas pessoas (outras poderão ter referências mais tarde ou mais cedo aqui na roulotte) foi um professor que tive na faculdade. Aulas práticas de uma disciplina que fazia parte integrante do curso mas que me aprazia tanto como receber um remate do Hulk nos dentes à queima-roupa, e da qual tentava a todo o custo desenrascar uma miserável nota que me permitisse dizer adeus à incansável fome por jovens repetentes nos obscuros meandros da mediocridade universitária que aquela disciplina em particular parecia exibir a cada semestre que passava. Ou era eu que estudava pouco e não atinava com aquilo, vá-se lá procurar razões ao esfíncter do mundo. Esse titã da academia era facilmente identificável pela sigla que todos os professores recebiam e que os representava em horários, anúncios públicos ou endereços de email ou de sites pessoais. E marcou-me durante muitos anos a forma coloquial com que tratava os alunos, sem distinção de classe ou categoria, onde todos caíam na sua teia de vernáculo bem apurado desde o primeiro segundo em que colocavam tentativamente os pés dentro da sua sala de aula. Era uma personagem, nunca perdida nos corredores das memórias que levamos connosco para todo o lado e à qual recorremos sempre que nos dá para a nostalgia.

Encontrei-o mais tarde, alguns anos depois de sair com o diploma bem agarrado nas mãos que na altura já trabalhavam e que pouco se preocupavam com os temas que aprendi enquanto estive sob a alçada do homem de que vos falo. E entrei em contacto com ele por culpa do FC Porto. Um dado dia estava a fazer umas pesquisas e descobri um site sobre cachecóis do FC Porto, onde uma honrosa colecção estava disponibilizada para qualquer visitante poder vasculhar binariamente e deliciar-se com os pequenos nacos de história e memória que por ali iam sendo publicados. E, para meu espanto, era mantido e actualizado pelo meu professor. Tinha na altura diversos cachecóis antigos e não tendo grande uso para eles, decidi enviar-lhe um email para nos encontrarmos e para o poder presentear com mais algumas valiosas adições à sua então extensa colecção. Marcámos encontro para um café na Constituição, perto do campo que continuará a ter o seu nome mesmo com mil parcerias comerciais a tolharem-lhe a tradição. Reconheceu-me mal entrei. “Você foi meu aluno!”. “É verdade”, respondi, “mas pensei que não se fosse lembrar de mim, Professor. Éramos tantos naquela cadeira!”. “Eu tenho uma memória de elefante, caralho, entra e não sai!”. Assim. Logo assim, a seguir ao “boa tarde” coma vírgula que nos destaca dos mortais tugas nervosos por pecar mais pela palavra que pelos actos. Este, do Porto, clube e cidade, viveu os anos do pré-e-pós-Pedroto, falou-me do golo do Ademir e da estúpida explosão de loucura que se viveu nas Antas. Falámos de Sevilha e Viena, de Gelsenkirchen e de Basileia, pedaços da história que guarda para ele e partilha com quem ouve e quem gosta de ouvir. Ofereci-lhe os cachecóis, agradeceu amavelmente e fizemos planos de um dia voltarmos a dar duas de treta. Nunca mais o vi e estes planos desaparecem tão depressa nestes dias que tanto correm sem se saber muito bem para quê nem para onde.

Semana passada tive notícias da sua morte. Perdeu-se um portista, um bom professor e um bom homem. Do mal o menos: o céu ganhou uma nova colecção e está mais azul-e-branco. Com lã ou acrílicos estampados.

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Dezassete

hernani

Bem-vindo, Hernâni! Repara nos nomes que terás de enfrentar na tua caminhada para o panteão portista com a camisola 17:

 

1995/1996 Jorge Couto
1996/1997 Barroso
1997/1998 Gaspar
1998/1999
1999/2000 Alessandro
2000/2001 Paulo Assunção
2001/2002 Hugo Ibarra
2002/2003
2003/2004 José Bosingwa
2004/2005 José Bosingwa
2005/2006 Jorginho
2006/2007 Vieirinha
2007/2008 Tarik Sektioui
2008/2009 Tarik Sektioui
2009/2010 Silvestre Varela
2010/2011 Silvestre Varela
2011/2012 Silvestre Varela
2012/2013 Silvestre Varela
2013/2014 Silvestre Varela
2014/2015 HERNÃNI
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Baías e Baronis – FC Porto 5 vs 0 Paços de Ferreira

20150201 - FC PORTO - FC PAÇOS FERREIRA

Mas que bela noite se passou no Dragão neste frio e primeiro Domingo de Fevereiro! Bom futebol, troca de bola com elevado critério, algum jogo entre-linhas (algo que não se via de uma forma consistente desde os tempos de Vitor Pereira), alguns bons golos e uma equipa do FC Porto à procura de um resultado que desse o suficiente retorno a uma moral que se quer sempre melhor e que o jogo da Madeira acabou por atirar ao Atlântico. Vamos a notas:

(+) Quaresma. Um jogo muito positivo, mais uma vez, a entender-se bem com Danilo e com Herrera (quando o mexicano aparecia a apoiar os colegas do flanco) e em constante movimentação para receber a bola e agir como um jogador do seu nível deve fazer: pôr o talento em campo sem esquecer a equipa. Mas o momento alto (altíssimo, raios, everéstico!) foi o seu segundo golo, que me deixou de braços erguidos para o céu como uma espécie de Cristo-Rei preso a uma corda de roupa. Levantei-os e não os baixei até que pudesse gritar o nome do cigano que tem tanto de enervante como de genial (como todos os génios, diria), mas que hoje colocou vinte e tal milhares de almas em êxtase com aquele monumento. Golo do ano. E se fosse o Ronaldo a marcá-lo, amanhã abria os telejornais.

(+) Óliver. Corriam aí 80 e poucos minutos e se alguém tirasse uma fotografia ao relvado com a objectiva exposta durante algum tempo, via poucos traços de movimento com nuances azuis-e-brancas. Mas veria com toda a certeza um pequeno trilho de luz e cor a voar no flanco esquerdo do nosso ataque. Óliver Torres, que depois de uma primeira parte menos exuberante entrou para a segunda com autoridade e um espírito de trabalho e pressão alta como poucos têm vindo a mostrar. E lembro, para os menos atentos, que este rapaz é o tal que está emprestado e que não temos hipótese nenhuma de o comprar a não ser que o Atlético de Madrid o queira vender a preço de saldo. O que parece tão provável como o Maicon aprender a jogar simples (ver abaixo).

(+) A pressão alta. O que mais notei na forma como o FC Porto tem vindo a encarar os últimos jogos é a simplicidade de movimentos no ataque. Bola para o lateral, sobe para o extremo, espera pelo overlap, chega? não chega? volta para trás, roda para o meio, segue do outro lado. Não me incomoda que demorem algum tempo a executar ou que haja poucos remates à entrada da área (talvez devesse haver menos aversão ao risco nessa zona, mas isso é outra conversa), só quero que tenhamos a bola e descansemos com ela controlada. Mas agradou-me imenso, quando perdíamos a bola, ver o meio-campo a subir para pressionar os jogadores contrários, desde os médios aos defesas e incluindo o guarda-redes, com a força de várias unidades a juntar-se num colectivo que obrigou o Paços a cometer muitos erros não-forçados (ah, ténis, nunca me abandonas) e a projectar a tremideira nas decisões que tomava. É assim que se arruma um jogo destes logo desde início, porque quando se rouba a bola ao adversário…há menos hipótese de sermos surpreendidos, não há?

(+) O livre de Tello. UM GOLO, RAPAZ!!! UM GOLO, RAPAZ!!!!!!!!! Parabéns, muito bem marcado, excelente! Agora de bola corrida, fazes favor. Obrigados.

(-) Tanto golo desperdiçado. Aos vinte minutos, o meu colega do lado abriu a mão em cima da minha perna. Sem tocar, acalmem-se. Apenas quis mostrar com aquele gesto que já tínhamos suficientes oportunidades falhadas para que o resultado que acabou por ser o final já o pudesse ser por aquela altura. Entre os centros de Quaresma, hesitações de Herrera e remates de Jackson, só por mérito da equipa em nunca desistir até chegar a um valor decente no algarismo por baixo do nosso logotipo no écran gigante é que conseguimos atingir o objectivo. E os golos que se falham podem ser tão importantes noutras alturas, contra equipas mais inteligentes e bem mais eficazes…como o jogo contra o Benfica mostrou aqui há uns meses. Ou já se esqueceram disso?

(-) Maicon. Insiste, como um adolescente de uma família democrata-cristã que decide tatuar “Hasta la victoria, siempre!” no peito, em fazer com que os adeptos o odeiem só por ser como é. E jogo após jogo vêem-se as idiotices e as displicências que não consegue sacudir porque é mais forte que ele. Não dá para apenas cortar a bola, tem de a picar por cima do avançado; não consegue aliviar um lance perigoso, tem de sair a jogar com a bola controlada; não sabe ser prático, tem de ser bonito. E esquece-se que ninguém precisa que seja um galã de filmes dos anos 50. Bastava que fosse um Van Damme. Nunca vai conseguir ter o apoio incondicional dos adeptos se persistir nestas falhas.


Com a Argélia eliminada teremos Brahimi de volta na próxima partida. E agora, quem sai do onze?

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Ouve lá ó Mister – Paços de Ferreira

Señor Lopetegui,

Ah, os invernos da Invicta, repletos de chuvinha da boa, noites fresquinhas e aguaceiros de criar bicho. Tudo que convide a uma noite bem passada em casa na companhia dos mais queridos, ou em alternativa com um copo de single malt e uma manta por cima das pernas. E no entanto, hoje pela noitinha, a uma hora digna de ser cuspida em cima pelos que ainda gostam de ir ao estádio ver a sua equipa, que serão muito menos que os que vão ver pela televisão mas que podem bater com a mão no peito com muito mais mérito e dizer: “sim, meu caro, eu estive lá a ver aquele genial espectáculo de futebol ao vivo!!!”. Sim, eu também vou ser um desses, mais uma vez, até porque já tenho saudades de entrar no Dragão e já passou tempo demais desde a última vez que por aí andei.

E apanhamos um Paços que vem cheio de moral depois de ter ganho ao Benfica na semana passada. O peito do Hurtado, a cabeça do Sérgio Oliveira e aos pés do Seri estão prontinhos para nos sacar pelo menos um ponto e tu sabes tão bem como eu e como todos os que lá vão estar hoje à noite que não podemos deixar que os rapazes lá de baixo se pisguem com nove pontos de vantagem depois da lifeline que nos deram há meia-dúzia de dias. Por isso espero um jogo sério e sem bichonices de brincadeiras.

Vi que convocaste o Aboubakar em vez do Gonçalo. Não acho mal, afinal o Gonçalo é dos Bs e o Vincent dos As, mas vê lá se não desmoralizas o puto. Olha que há ali talento e depois do Jackson sair (que acredito vá acontecer no final da época), o rapaz tem lugar no plantel. Oh se tem. E vê se falas com o Tello e o convences que a melhor maneira de agradar ao povo que está nas bancadas ou em casa…é marcando golos. Já falhou que chegue, não achas? Acima de tudo que seja um jogo decente, com uma vitória que se aceite com um sorriso e se possível sem parvoíces na defesa. É pedir muito?

Sou quem sabes,
Jorge

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