Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

233387_galeria_academica_v_fc_porto_primeira_liga_j12_2014_15.jpg

É assim que todos os jogos do FC Porto deviam ser, pelo menos contra este tipo de equipas medíocres. Uma entrada fortíssima, sem mácula, com pressão intensa, golos fáceis e uma autoridade em campo que não mostra um mínimo de preocupação com a moral ou a capacidade de recuperação adversária. Jogar como os grandes que somos, no fundo. Dois ou três golos depois, a gestão, sempre com bola, com rotação de jogadores e manutenção de uma atitude de arrogância positiva, continuamente a criar perigo para a baliza contrária. Simples, não é? Foi, por nossa culpa. Vamos a notas:

(+) Um meio-campo que funcionou muito bem. A numerologia pode explicar muita coisa, desde os calendários Maias às cartas do professor Mambo, mas o meio-campo do FC Porto foi hoje um exemplo quase perfeito que a escolha de camisolas parece seguir uma inspiração divina que faz com que questionemos a raiz da nossa existência e o nosso lugar no Universo. Para lá do sentido da vida ser 42, como todos sabem, vejamos os números dos três centro-campistas que hoje alinharam em Coimbra com as nossas cores: 16, 30 e 36. Se Ruben Neves arrancou numa posição mais recuada, somemos Óliver à construção defensiva e teremos 36+30=66. Dois números “seis”, portanto, a alternar na combinação defensiva. Se colocarmos o outro 16 a passear ali pelo lado, o “seis” parece uma visão idílica que nunca aparece ao mesmo tempo que se mostra perfeito, em zona pouco criativa mas muito trabalhadora. E se tirarmos Óliver a Ruben e o deixarmos sozinho, 36-30=6, que ele não é mas mostra gostar de fingir ser. Mais pela frente, se subtrairmos Herrera a Ruben e subtrairmos esse número também a Óliver, quando o homem volta para apoiar, temos 30-(36-16)=10. O dez perfeito que também não existe mas que se compõe das ausências e presenças na zona certa, no momento certo. Todos a funcionar, a adicionarem-se e a subtrairem-se, como números em folhas de papel, manuseados por um Deus de lápis em riste. Só faltou um: o 6. Para a semana, talvez.

(+) Óliver. Impecável na zona defensiva em apoio à primeira fase de construção, perfeito na labuta do centro do terreno e trabalhador como poucos na altura de pressionar o adversário, parece estar a atravessar um bom momento e a jogar com a confiança que esperávamos desde o início da temporada. Excelente capacidade técnica, toque de bola de primeiro nível e uma inteligência táctica acima da média fazem dele titular na frente de Quintero e uma peça essencial do estilo de Lopetegui. Excelente jogo.

(+) Jackson. Dois golos perfeitos, um com cada pé, numa exibição que foi quase perfeita em termos de eficácia em frente à baliza. Trabalhou bem e apesar de não ter tido grande impacto no resto da partida, foi ele quem resolveu o jogo logo desde muito cedo e a perfeição com que aquele segundo remate (e segundo golo) entrou na baliza é uma obra de arte que deve ser vista, revista e trevista. Genial, filho do Jack, genial.

(+) O apoio dos adeptos. Quando se colocam bilhetes a dez euros para um jogo a uma hora de viagem de carro da Invicta, é natural que a malta alinhe e este foi um caso paradigmático do que se quer sempre que o FC Porto se desloque a um estádio para praticar o seu métier. Todo o jogo se ouviram os adeptos a cantar, a afastar o frio enquanto saltavam e entoavam os tradicionais cânticos de apoio à equipa e aos jogadores, aqueles que fazem a razão do nosso apoio e da nossa dedicação. Tive pena de não ter estado ali no meio dos nossos, parabéns, malta!

(-) Brahimi. Segundo jogo consecutivo em que Yacine não parece o mesmo de aqui há umas jornadas, o que não sendo algo que me deixe prostrado em posição fetal a lamentar os infortúnios das decisões dos deuses, chega para preocupar um bocadinho. Parece mais lento, menos activo, a complicar mais do que decide e sem perceber qual a melhor maneira de passar pelos adversários. A genialidade tem disto, quando a lâmpada não se acende por cima da sua cabeça naquela imagética tão tradicional dos desenhos animados…só sai borrada. Espero tempos melhores, rapaz, mas não te preocupes, ninguém deixou de acreditar em ti. Até os relógios normalmente certos podem parar de vez em quando.

(-) Académica. Muito, mas muito fraquinho. A entrada em jogo fazia prever uma estratégia tão defensiva que temi o pior caso não conseguíssemos trabalhar a partida de forma a mostrarmos em campo que somos melhores, e a forma como a Académica não ter obrigado Fabiano a fazer uma única defesa em condições num jogo disputado no seu próprio estádio é a prova que não há grande qualidade em Coimbra para lá de meia-dúzia de estudantes bem boas e alguns bares porreiros. Enfim, ebbs and flows da vida.


Jogo ganho, amarelados em risco que deixaram de estar em risco para o jogo contra o Benfica…all is well, venha o Shakhtar!

Link:

Ouve lá ó Mister – Académica

Señor Lopetegui,

Não tenho um grande histórico mental dos jogos do FC Porto em Coimbra, que é o mesmo que dizer que me lembro de mais borracheiras que apanhei nessa bela cidade que golos de azul-e-branco. E ainda por cima parece que me cai o céu em cima sempre que nos deslocamos aí para jogar contra os pretos da terra (estou a falar do equipamento, carago, não há racismos aqui), porque em mais que uma ocasião sou impedido de ver o jogo em directo. Não vi no ano daquela épica batalha na piscina, onde as tropas do Villas-Boas pediram ao Belluschi para brincar como quisesse e o Silvestre marcou aquele golaço de primeira…não vi na época seguinte, quando Vítor Pereira se enterrou pela medida grande com um 3-0 para a Taça que nos deixou fora, furiosos e frustrados. Mas vi montanhas de jogos com o camelo do Pedro Roma na baliza a defender tudo, lá isso vi, por isso eu sei que os números que nos dão favoritismo são só isso: números.

Tem cuidado com os amarelos. Pá, só te aviso disto porque já sei do que a casa gasta, e já vi muitos rapazes a perderem a cabeça por causa dessa treta. O Indi e o Casemiro não são propriamente gajos calminhos e se os puseres a jogar arriscas não os ter para jogar com o Benfas, onde podem vir a dar muito jeito se for preciso andar ao molho dentro de campo…ou até para lhes ganhar, quem sabe. Mas não os tires da equipa, nada disso. Fala com eles, explica-lhes que devem fazer o mesmo que sempre fazem, mas mais pela calada. Menos entradas de carrinho e empurrões com os braços estendidos. Se vires que eles não querem ou não conseguem…aí sim, enfia o Marcano e o Campaña e seguimos contentes como dantes. Só aí. Ouvistes? Bale.

Hoje, mais uma vez, não vou ver o jogo em directo. Jantares e jantarinhos e jantarões que me arrastam (com bom motivo) para longe de vocês, meus caros, e não adianta jurar que não vou voltar a falhar os jogos porque já percebi que as forças do Universo conspiram quais velhos em repartições de finanças ou velhos no dominó de rua. Mas chegado a casa, seja a que horas, vou ver a bola. Porque um portista é também isto, Julen, é um estupor de uma loucura que não se explica, só se sente e parece não melhorar com a passagem do tempo. Ainda bem.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Baías e Baronis – FC Porto 5 vs 0 Rio Ave

232353_galeria_fc_porto_v_rio_ave_primeira_liga_j11_2014_15.jpg

Quem saiu do estádio aos 85 minutos, como faz habitualmente, perdeu três golos, todos eles memoráveis. Desde o calcanhar de Alex Sandro (involuntário, note-se), aos pés esquerdos de Quintero e Danilo, por motivos diferentes, foi um festival de cinco minutos de golaços e alegria bem espalhada. Mas o resto do jogo não foi tão entusiasmante nem tão bem disposto, porque o FC Porto mostrou mais uma vez que ainda tem um bom caminho a percorrer até conseguir estabilizar a equipa até um ponto em que se possa considerar madura. Há ainda muita desorganização a meio-campo, especialmente sem bola, para que possamos olhar para um futuro próximo com o optimismo que todo aquele talento poderia fazer crer. Ainda assim, a vitória assenta bem. Vamos às notas:

(+) Danilo. Estás com uma moral, rapaz, que nem pareces o mesmo que cá chegou e andou dois anos a penar até conseguires fazer meia-dúzia de exibições decentes! Desde as intercepções na defesa, as subidas pelo flanco, as diagonais que fazes para o meio, estás a dar uma tremenda vida ao corredor direito, que já não via a ser tão explosivo desde que o Bosingwa por cá andava! O golo que marcaste então…upa upa, aos noventa e coiso minutos ainda tiveste pica para receber a bola no meio-campo e cavalgares por ali fora para rematares de pé esquerdo e meteres a bola na gaveta com uma pujança e o mérito de quem trabalhou para isso. Parabéns, homem!

(+) Tello. O melhor jogo dele desde que chegou ao FC Porto, foi dinâmico, vivo, alerta, trabalhador e uma tremenda enxaqueca para o lateral que o defendia. O golo é exactamente o que este rapaz deveria fazer em todas as circunstâncias em que se encontre olhos nos olhos com um defesa no centro da área: finta, drible, arranque, remate. Entrou desta vez e acredito que pode entrar muitas mais vezes se esta “motinha” continuar a ser prático e não abusar do adorno técnico. Esteve muito bem no resto da partida, a aproveitar as subidas de Danilo e a trocar bem a bola com ele. Gostei do entendimento e gostei do empenho.

(+) O enorme talento de Quintero no último passe. Recebe a bola à entrada da área e penso: “vai sair remate em banana, para o cantinho!”. O homem parou e deixou a defesa sem saber o que fazer. Pensei: “oh, porra, remata lá a bol…” e o gajo faz-me aquela parvoíce ao alcance dos deuses só lá do topo. Nada de deuses merdosos, responsáveis pelos figos ou pelos ribeiros secos. Zeus, Hermes, Apolo, os grandalhões. E fiquei com a nítida impressão que Óliver estava meio quilómetro fora de jogo quando recebeu o passe de Juanfer, mas já vi o lance na televisão e vou amanhã mesmo marcar consulta para oftalmologia.

(-) Sofreguidão na zona pressionante do meio-campo. Não é uma novidade mas assusta-me perceber que o FC Porto não consegue segurar-se quando se coloca em vantagem. Há qualquer tipo de entorpecimento mental, de permissividade que se apodera dos jogadores depois de marcarem o primeiro golo, que lhes retira a pressão da cabeça e os faz cometer parvoíces consecutivas, do guarda-redes ao ataque. Hoje, mais uma vez, o golo de Tello fez com que a maioria da rapaziada de cor-de-rosa não conseguisse assentar a cabeça e começasse a falhar passes, a arriscar em demasia com trocas de bola curtas em zonas proibidas, a fazer passes absurdos para a frente e a permitir lances sucessivos de potencial perigo para a nossa baliza. E a subida de um elemento para a pressão subida…é só visto. Óliver, Tello ou Quintero andavam a correr como doidos no meio-campo adversário, procurando interceptar a bola que estava a ser trocada entre a zona defensiva do Rio Ave, fazendo tantos estragos no oponente como uma formiga paralítica a cabecear um rinoceronte. No entanto, o dano era pior para a própria equipa, que se desposicionava no meio-campo e abria brechas bem aproveitadas que só não causaram mais perigo porque o adversário era modesto para o nível onde queremos jogar. É que se fizermos isto contra um Manchester City ou um Barcelona…

(-) Brahimi. Já disse há algum tempo que quando Yacine estiver em dia bom, vai ser um espectáculo vê-lo e devia haver quota extra para os bilhetes. Mas quando as coisas lhe correrem mal…é de fugir. E hoje foi um destes últimos, em que o argelino não acertava com os domínios de bola, os arranques em drible ou os (poucos) passes aos companheiros. E para compor o ramalhete, ainda deu um pontapé num adversário e merecia ter sido expulso. Belo jogo, rapaz. Não faças muitos destes, por favor.


Vinha preparadíssimo para uma crónica cheia de referências ao rabo do Alex Sandro, porque me pareceu que foi com essa parte do corpo que tinha marcado o golo. Eram piadas sobre os “anais da história” e afins. A repetição, que vi há pouco, tirou-me as dúvidas, e o calcanhar não é tão fácil/brejeiro para usar. Hélas.

Link:

Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Desde o dia 2 de Novembro que não ponho os pés no Dragão. Hoje, vinte e sete dias depois, voltarei a entrar no meu teatro de sonhos para ver o meu clube a defrontar uma das boas equipas deste campeonato, agora que estamos já satisfeitos por uma excelente passagem pela fase de grupos da Champions’, seja qual for o resultado que venhamos a conseguir no jogo em casa contra o Shakhtar, daqui a semana e meia. E por esse motivo, os meus parabéns a ti e ao grupo todo.

Mas hoje, outro galo canta. Porque os teus rapazes têm uma tendência fantástica para desaprender as lições de tempos idos, porque o jogo tem características completamente diferentes do de Borisov e porque não podemos arriscar sequer perder pontos na caminhada para um título que está ainda muito longe mas que continua perfeitamente ao nosso alcance. E é por isso mesmo que temos de entrar para esta partida, para mais uma destas inúmeras partidas de domingo à noite, com o fim-de-semana a terminar e a perspectiva de uma árdua semana de trabalho que se coloca perante os nossos olhos, é pelas almas dos milhares de portistas que vão estar no Dragão com a ânsia de um jogo bem disputado que termine com uma vitória para as nossas cores que temos de entrar com força, com a capacidade de um grupo de triunfadores que queremos sair do estádio com um sorriso de orelha a orelha, torneado por uma alegria que só o FC Porto nos consegue dar. E tudo depende de ti, do Brahimi e do Óliver, do Quaresma e do Jackson. E, noutra escala, depende também do acerto do Indi, das subidas do Danilo e dos passes do Casemiro.

Não deixes baixar a moral do grupo que comandas mas acima de tudo não deixes esmorecer o ânimo do povo que vos acompanha semana após semana. Ganhem o jogo, vençam com dignidade e mérito…e transforma um dos piores momentos da semana numa orgia de golos e boa disposição. Está nas vossas mãos.

Sou quem sabes,
Jorge

Link: