Ouve lá ó Mister – Arouca

Señor Lopetegui,

Anda tudo louco. Tudo. Louco. Um empate, dois empates, três. Uma derrota, uma vitória, mau. O mundo parece convencido que uma equipa se forma de um dia para o outro, que as empatias e sinergias que decorrem do trabalho em conjunto, da harmonia que se cria durante meses (raios, durante anos!) de convívio, de espírito comum e objectivo partilhado, tudo isso aparece automagicamente do ar. Não é verdade e se as pessoas pensarem um bocadinho, vão perceber que nada é obra do acaso e tudo se trabalha para que os frutos apareçam. A não ser que sejas o Scolari, nesse caso é mandar as bolas para os Ro-Ros e siga a rusga.

Hoje vai ser um bom teste a essa capacidade crescente de harmonizar um grupo de talentos e de o consolidar como uma equipa em condições, capaz de enfrentar equipas temíveis por essa Europa fora ou alguns adversários de menor nome aqui pelo burgo. E o Arouca, que incluo no segundo grupo por motivos que deverão ser óbvios para o comum dos mortais, pode ser uma boa prova a essa mesma capacidade. O Pedro, teu companheiro de profissão e aquele gajo que de vez em quando podes ver da VCI quando os écrãs gigantes estão virados para a estrada, vai ver se te lixa a vida e a vida de todos nós, depois de tanto nos ter dado quando por cá esteve. São as matizes da vida, Julen, e podes ter a certeza que a mordidela no traseiro vai aparecer quando menos esperas. Hoje, vendo a convocatória, reparo que estás a levar dezoito garbosos moçoilos, prontinhos a sair de lá com três pontinhos no saco. Não te peço mais, só gostava de te pedir duas coisas: aposta no Quaresma para aproveitar a pica do rapaz…e decide de uma vez o que vais fazer com o meio-campo. Queres uma dica? Cá vai: Ruben, Herrera e Quintero. Tau. Assim, sem trocos, obrigado, siga a sua viagem.

Ganha lá o jogo. Nem sei se consigo ver em directo mas garanto que se não conseguir ou se vir a espaços, quando chegar a casa vejo o jogo todinho para te dizer das minhas. Boas ou más. Boas. Sim, vamos acreditar que serão boas.

Sou quem sabes,
Jorge

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Leitura para uma sexta-feira tranquila

 

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Athletic Bilbao

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O primeiro camelo que me vier dizer que os jogos da Champions’ (bem mais que os da Europa League) não são diferentes dos outros vai levar com um insulto customizado. Há qualquer coisa no ambiente, fora e dentro do estádio, na forma como o público encara o espectáculo, nos adeptos contrários (que hoje estavam em grande número…e bem dispersos pelo estádio…vale tudo para meter notas ao bolso, não é, malta?), na emoção do resultado e dos outros resultados por essa Europa fora…há uma electricidade, um tremor, uma vida que se ganha nestas partidas que só em clássicos se consegue neste nosso desterro da bola. Ganhámos, e ganhámos bem…mas também ganhámos mais uma meia-hora de susto pelas falhas que se repetem, ainda por cima em jogos grandes. Safou-nos o 7. E de que maneira. Vamos a notas:

(+) A entrada de Quaresma. É curiosa esta dicotomia da relação de Quaresma com os adeptos. Um rapaz que saiu do FC Porto corrido a assobios para voltar como grande símbolo do clube e da identificação da massa associativa com a sua imagem e com o espírito do rapaz. É caso para análise freudiana (ou jungiana, talvez) à qual voltarei mais tarde. Entrou cheio de força e foi exactamente o que a equipa precisava para aquele último empurrão para a vitória, conseguida pelos seus pés, onde Ricardo mostrou que quando quer, quando está empenhado no jogo e na equipa, é uma mais-valia para qualquer clube do Mundo. O remate foi feliz, sim, mas a tentativa, a busca incessante pela bola e pelo resultado fizeram dele um herói improvável numa altura em que o panorama era sombrio. Obrigado, rapaz, volta assim.

(+) Tello. Só tem um problema, este estupor: é ineficaz no remate. Corre imenso, posiciona-se muito bem para receber a bola e é um perigo constante para os laterais pela aceleração que consegue quando se coloca no 1×1. Hoje, mais uma vez, mostrou que é um elemento essencial no ataque (continuaria a apostar em Brahimi/Jackson/Tello) pela diferença que exibe em relação a qualquer outro jogador do plantel, com a excepção talvez de Ricardo, que deveria ser o seu understudy e não um pseudo-adaptado a lateral. Se fosse mais eficaz a rematar à baliza…provavelmente não tinha vindo para cá.

(+) Os laterais. Não me esqueço das correrias de Danilo e Alex Sandro no apoio ao ataque, mas a forma como estão a ser colocados em campo, partindo de trás em vez de se colarem imediatamente à linha como faziam com Vitor Pereira, faz com que seja muito mais exigente a sua utilização em termos físicos porque percorrem mais relva durante o jogo. Tenho de confirmar as estatísticas, mas é o que me parece. E Danilo está num momento alto de forma e moral, a jogar prático, simples, sem inventar mas acima de tudo sem desistir. Alex foi rijo a defender pelo chão e pelo ar e só não atacou mais porque foi obrigado a tapar os buracos deixados por Brahimi e Quintero. Ambos estiveram muito bem.

(+) Herrera. Não estou louco, fica já aqui assente. Gostei do jogo de Herrera. Depois do jogo recebi um sms a dizer: “O Herrera correu 12 kms!” e não contesto as estatísticas. O problema de Herrera nunca foi a movimentação, nunca foi a forma como se desloca para receber a bola e como se coloca de frente para o jogo para perceber o que melhor pode fazer. O seu problema é sempre o que faz depois de a receber e o timing leeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeento com que executa. Hoje foi mais rápido, mais inteligente com a bola nos pés e lutou até não poder mais, acabando a pressionar Iraizoz. Marcou o primeiro golo numa excelente jogada entre Quintero (muito bem na primeira parte) e Tello. Espero que mantenha o nível.

(-) Casemiro. Não me lembro de um jogo bom dele. E lembro-me bem dos jogos maus. Este é mais um deles, em que passou quase o tempo todo fora da posição defensiva, sem pressionar o adversário, sem criar linhas de passe (viu várias vezes Herrera…HERRERA a passar por ele com a bola, sem se mexer), sem se colocar no local certo, sem obstaculizar a progressão do oponente…sem futebol. Foi um zero. Ruben, na sua posição, só perde na força, porque seria perfeito para funcionar como um “regista” mandão. Tivesse mais um ou dois aninhos e umas dezenas de jogos nas pernas e Casemiro tinha de trabalhar para ser titular. Como assim não é, continuamos a ver Casemiro a arrastar-se pelo campo e a falhar passes. Algo tem de mudar na atitude do brasileiro.

(-) Mais um golo oferecido. Shakhtar: dois golos oferecidos. Sporting: um golo oferecido, um auto-golo. Guimarães: um golo oferecido. Hoje: um golo oferecido. Começa a ser um handicap enorme estar todo o jogo a procurar o melhor entendimento possível quando de um momento para o outro conseguimos atirar à lama todo o trabalho com um erro que é quase sempre evitável. Hoje foi Herrera (que, note-se, até fez um bom jogo) com um passe mal medido para Casemiro, que foi (mais uma vez) lento demais para interceptar a bola antes dela chegar aos pés do adversário. Não pode ser, minha gente, não podemos continuar a ter este tipo de erros. A época passada chegou e sobrou para isso e a malta não se esquece.

(-) Os assobiadeiros. Mais uma vez fui obrigado a levantar a voz no meio daquela corja de pseudo-portistas que assobiaram a equipa e dizer, do alto do meu 1,69m: “ASSOBIAR AO CARALHO, PÁ!”. E não fui o único porque ouvi estas palavras (ou outras com a mesma temática) a serem proferidas por diversas pessoas na minha bancada, numa manifestação de solidariedade (ou enfado com esta merda desta moda) com os jogadores que já tremiam sem capacidade para subir no terreno e receio natural depois de mais uma falha. Portistas. De. Merda. É o que vocês são.


Vi o jogo com cinco bascos à minha frente. Malta porreira, tranquila, fomos conversando no intervalo e trocando algumas opiniões durante o jogo. Inimigos sim, mas com cordialidade. Enfim, vão com mona pesada para Bilbao. Eu, vou dormir descansadinho e com um sorriso bem grande.

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Ouve lá ó Mister – Athletic Bilbao

Señor Lopetegui,

Que trezentos tigres brancos me penetrem se eu não saí do Dragão com uma broa enorme no passado sábado, caríssimo! Não foi um jogo bonito, não foi uma tarde bonita, não foi um fim-de-semana bonito, e tudo por culpa tua e dos teus. Ninguém gosta de perder, mas acho que não entendeste o que significa perder contra o Sporting, especialmente no Dragão. Pior, pior, só contra o Benfica. Acredita que não vais querer enfrentar essa patada nas têmporas, Julen.

Todos os que estiveram a ver o jogo no sábado estão à espera de uma revanche de proporções bíblicas para o próximo jogo em que nos encontremos. É assim que sabemos viver a vida de um portista, meu caro, e se ainda não percebeste isso, não estás no clube certo. Mas eu acredito que estás e acredito que vais conseguir colocar o teu nome num galarim de honra que faça com que sejas o primeiro espanhol em condições desde que o Fernández agradeceu aos deuses, ao Nuno e ao Pedro Emanuel o facto de lhe terem ofertado a Taça Intercontinental. E acredito que o vais fazer porque o futebol que queres pôr em prática agrada-me imenso, as trocas entre os jogadores, as incisões cirúrgicas na área, a troca de bola entre gajos cheios de talento…salivo-me todo ao pensar nisso. Mas ainda não estás lá…raios, estás muito longe de estar sequer perto de lá chegar! E entretanto há jogos destes contra equipas destas, tramadas, lutadoras, com a sua quota-parte de talento que nos quer alfinetar as nádegas e clisterizar o esfíncter.

Sei que estes moços são da tua terra. Ou perto, não sei em que cidade nasceste, deixo isso para um dia quando visitar o Museu e lá estiveres todo fofinho com uma placa ao teu lado. Mas para lá chegares, tens de ganhar a todos, incluindo aos teus conterrâneos. Começa a reconquistar o povo hoje, Julen. Uma vitória. É o que te peço.

Sou quem sabes,
Jorge

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Terça-feira demora muito?

Detesto perder. Fico insuportável, com umas trombas do tamanho do maior elefante que possam imaginar. As pessoas falam na minha direcção e hesito em responder logo ou respirar fundo antes que me saia uma torrente de diatribes contra um ou outro jogador, o relvado, o treinador, o Mundo. Não consigo pensar, o raciocínio mais simples e frugal transforma-se numa impossibilidade técnica porque todas as sinapses disparam com a memória de uma tarde ou noite que deixam marcas profundas que se apagam só ao fim de várias semanas de carpideirismo de alto nível e meia-dúzia de vitórias convincentes. Custa-me perder, não estou habituado e apesar da idade me trazer uma experiência que não tinha quando comecei a ver o FC Porto a jogar, numa altura em que uma derrota já não era natural mas continuava a ser uma facada no lombo, a verdade é que sinto esses momentos como se a minha filha me dissesse: “não gosto de ti, és um gordo nojento e não te posso ver à frente! vou fugir com o Adérito!”. E eu nem conheço o Adérito, até deve ser um gajo porreiro, mas neste momento é um monte de estrume. Desculpa, rapaz, mas não vou à bola contigo.

Ontem, num dia bonito depois de tantos dias tristes e chuvosos, andei com as beiças de um puto que não pôde ir à piscina num quente dia de Verão. E só fico à espera que o final da tarde de amanhã chegue rápido para limpar toda esta sujidade que me invade os poros e me desfaz a moral.

Nunca mais é terça-feira.

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