O choro e a culpa

Ao contrário de todas as minhas teorias de centralismos exacerbados e do paralelismo entre Real Madrid e Benfica, posso confirmar que o clube que joga no Santiago Bernabéu é de facto uma mistura espanhola de Benfica e Sporting.

A leonização pode ser facilmente observada. Nunca vi ninguém a reclamar tanto por dois ou três lances durante um jogo em que podem ou não ter sido beneficiados. São puros, impolutos, dignos e respeitadores. Os mesmos lances, noutras temporadas, virados do avesso…não interessam.

Já a aguiização (soa mal mas vou avançar com ela na mesma) é evidente: se nos ganham, a culpa é do árbitro…mesmo depois de acabar o jogo com onze jogadores depois de um festival de pancada que durou 92 minutos, onde ninguém teve problema em acertar repetidamente em tudo o que mexia de azul e grená.

Há coisas que nunca mudam: a capacidade humana para se esquivar a assumir as próprias falhas é uma delas.

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A lógica da burrice, por Vítor Frade

“Porque a lógica que está implantada é a lógica da burrice. A cada passo vemos e ouvimos apregoar uma série de slogans que vão ao encontro desse tipo de raciocínio. Até na escolha dos miúdos ao nível da formação se ouve, sistematicamente, coisas como «Eh pá, é habilidoso, mas é pequenino». É um absurdo. Por exemplo, o Liedson, não sendo um fora-de-série, ao nosso nível é um jogador fantástico e é pequenino, como o era o Romário e uma série de outros bons jogadores.”

Vítor Frade, em conversa com Nuno Amieiro, no Falemos de Futebol, infelizmente em hiato prolongado

 

Este excerto é retirado de uma conversa mais longa que vale bem a pena ler, no Periodização Tática (é brasileiro, não estou a usar o novo acordo), chamado “A lógica da burrice“. Numa altura em que todo o mundo parece obcecado com o fortalecimento dos jogadores da bola em detrimento da capacidade técnica, numa espécie de ronaldização do futebol, este texto espelha bem que nem sempre essa doutrina será a mais acertada.

Para além da pertinência do texto, é extremamente interessante ler as opiniões de alguém que sabe, ao contrário do que acontece com as crónicas da Marta Rebelo.

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Addy: há salvação?

14 jogos na Liga, 13 dos quais a titular.

1084 minutos.

2 golos.

2 vermelhos directos e um duplo-amarelo.

O puto tem talento, não há dúvida. Mas não sei se tem andado a ser injustiçado pelos árbitros ou se é vítima apenas de um estilo mais agressivo e terá de se acalmar para se adaptar ao nosso futebol. O que sei é que se fôr correcta a segunda premissa, o jovem ganês ainda é muito “verde” para fazer parte do plantel no próximo ano.

Se bem que até o Sereno acalmou depois de Villas-Boas lhe passar a mão no pêlo…

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Baías e Baronis – Vitória Setúbal 0 vs 4 FC Porto

 

foto retirada do MaisFutebol

 

Não há dúvidas quanto à alta qualidade do plantel do FC Porto 2010/2011 e quando me pareceu que a equipa poderia ter alguma instabilidade quando fosse necessário rodar um pouco da estrutura titular, os meninos que disputaram este jogo fizeram tudo para me roubar o resto das dúvidas. Não faço ideia se a época foi preparada por forma a que os jogadores atingissem o pico de forma nesta altura, até porque alguns me parecem cansados, mas o que é verdade é que os nossos rapazes mais cansados parecem bem mais frescos que os mais frescos dos outros. Hoje, para além da excelente exibição de James, Walter, Beto e Sereno, todos eles suplentes ou nem isso, tivemos um ritmo de jogo de um campeão que economiza pouco e que mostra mais vontade de vencer que os próprios adeptos. Eles que são o principal foco da nossa atenção desportiva, os heróis de uma época que está a ser brilhante, são os mais esforçados de todos. E dão-me orgulho vê-los a jogar como fazem e a esforçarem-se como hoje. A vitória era certa. A goleada era provável. Check e duplo check. Notas:

 

(+) James Rodriguez Excelente jogo do colombiano mais jovem do plantel. Assistências (três, meus amigos, que isto agora com colombianos temos de ter mais que uma coisa boa por jogo), bons cruzamentos, magnífica técnica individual e acima de tudo a noção que o puto está mais maduro. Continuo a gostar mais de o ver a jogar no meio mas hoje, a voar pelo flanco, foi um perigo constante para a tremidíssima defesa do Setúbal e mostrou que é um valor cada vez mais seguro no nosso plantel. Varela, põe-te fino.

(+) Walter Gordo sim, mas com golos. É este o Walter que precisamos para o campeonato? Se mantiver o nível de jogo que hoje mostrou em Setúbal, sim. Não é rápido mas mexe-se bem e consegue arrastar bem os defesas a jogar como pivot central, atraindo os adversários para rodar a bola rapidamente para os flancos e surgindo em boa posição no ataque para marcar. Fez um golo mas podia ter feito pelo menos mais dois e fica-me na memória uma excelente desmarcação depois de um cruzamento do Guarín onde espetou com o esférico na trave. Precisa de manter este nível para ser alternativa a Falcao…quando fôr preciso, claro!

(+) Beto Defendeu um penalty. Só isso chegaria para receber um belo dum Baía, mas a postura activa e interventiva durante o jogo fez dele um elemento importante da equipa que hoje goleou o Setúbal no Bonfim. Para além da boa defesa no penalty esteve sempre muito bem a rechaçar bojardas de longe de Pitbull & Cª e entendeu-se bem com a estrutura improvisada da nossa defesa.

(+) Sereno O rapaz passa-se, é verdade. Continua a não saber o que fazer à bola depois de galgar dezenas de metros em grandes piques. Mas não resisto a dar os parabéns ao moço, não só porque consegue arrastar o jogo desde a nossa zona defensiva até à grande-área adversária, mas pelo empenho em campo e pela produtividade elevada (ao seu nível, atente-se) que um central consegue demonstrar enquanto joga como lateral. Não me lembro de ver Otamendi, que hoje esteve de volta às boas exibições, a fazer o mesmo enquanto jogava na selecção argentina naquela hibridização Maradoniana. É verdade que precisamos de um pouquinho mais de “hmmph” num lateral de topo, um pouco à imagem do que Fucile dá ao jogo quando está com a cabeça no sítio, ou Sapunaru…quando está sóbrio, mas Sereno tem-se revelado uma alternativa viável para quando é preciso dar descanso a um ou, neste caso, a todos.

 

(-) Desiquilíbrio na Liga Quando a segunda equipa do FC Porto, composta por jogadores do calibre de Souza, Sereno e Mariano, que por muito esforçados que sejam (foram e continuam a ser) provavelmente nunca chegarão a ter um estatuto de titular, chega a Setúbal e goleia por quatro pazadas a zero…algo está mal. Há equipas, tal como este Setúbal, que não deveriam receber o prémio de figurar na lista dos melhores clubes de Portugal. É pena, mas é verdade.

 

 

Um jogo fácil demais mesmo para as nossas segundas linhas. Quando vi o onze, especialmente o ataque, pensei que o jogo ia ser enfadonho e que estaria mais tempo na conversa com a minha mãe que bem merecia. Acabei por passar mais tempo atento ao que se passava na televisão, mas a minha mãe compreende. Ela não gosta muito de futebol. Muito é favor, não gosta nada. Mas sabe que quando me vê a ver a bola e o meu clube está a jogar, compreende. Porque é mãe. E é minha. E é a melhor de todas. E, puxando a brasa à minha dourada escalada, aposto que se gostasse de futebol, gostava de ver este FC Porto a jogar.

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