
Um jogo sem história, como muitos que a equipa tem feito neste campeonato. Uma primeira parte mais defensiva, com algumas saídas para o contra-ataque sem grande perigo, mas uma segunda parte sofrida, a mostrar que a melhor equipa consegue sempre brilhar quando enfrenta um adversário inferior e com a capacidade de ripostar e lutar pelo resultado ao nível de um tetraplégico gangrenado. O resultado é natural depois de vermos o que as equipas mostraram em campo e a vitória assenta bem. Vamos a notas:
(+) Brahimi. Sempre estupendo no drible e na progressão no terreno, foi constante o perigo que causou na área adversária, com fintas incríveis e olhos sempre postos na baliza. Fica na memória a forma como conseguiu passar aí umas doze vezes pelo lateral e a maneira como controlava bolas aéreas com uma leveza tal que se estivesse a agarrar um ovo atirado por um pitcher da MLB era capaz de impedir que partisse. Lindo, Yacine.
(+) Corona. Se Brahimi traz o perfume magrebino ao nosso ataque, os aromas centro-americanos também se elevam para o nosso centro olfactivo como uma panelona de feijão preto e cheddar prontinho para um taco à maneira. Fresco como uma alface iceberg, irreverente como um abacate bem moído com salsa picante, é Jesus que nos salva e Jesus que nos entusiasma e nos faz viver na beirinha da cadeira, sempre sem saber qual será o próximo genial coelho que tirará da sua imaginária cartola. Hoje, como que de smoking vestido, deambulou e rasgou todo o flanco com a velocidade e imprevisibilidade das suas acções. Uma pérola!
(+) A agressividade durante todo o jogo. Quem se atreve a colocar o pé quando confrontado por gigantes como os que hoje puseram os pés no Dragão? Quem ousa tocar na bola, nem que seja uma fugaz roçadela (upa!) com a intensidade de um dente-de-leão desnudo, sabendo que terá pela frente os titãs do confronto físico, homens que nunca desistem e (ai deles!) chamam covarde ao Roy Keane nos olhos? Quem, pergunto?! QUEM?! Ninguém, claro!!!
(+) Jogar de olhos fechados. A organização táctica faz lembrar um jogo de Risco em que as peças estão colocadas exactamente no sítio certo para que não seja necessário reforçar exércitos com mais de duas regiões de diferença. Uma espécie de Civilization sem hexágonos visíveis…mas apenas para os mortais, porque os homens que jogam e os que mandam são os mesmos, numa simbiose perfeita de jogadas treinadas incessantemente e executadas com a perfeição de um Mondrian ou de um Rubens, se gostarem mais desse estilo. É um orgulho e um privilégio poder assistir a toda esta incrível paleta de arte geométrica com jogadores empenhados e livres de preocupações, como pequenas Heidis a correr pelos montes verdejantes ou Tómes Sóyers a perseguir barcos a vapor no Mississipi. Oh, viver sempre neste Dragão seria decerto alegria eterna!

(-) Herrera. Quando os outros andam devagar, tenta andar depressa. Quando os outros desistem, procura empenhar-se mais. Faz lembrar aqueles miúdos chatos no recreio que se o jogo não for de acordo com o que estão a dizer desde o início da semana, se as equipas não estiverem alinhadas mesmo assim, não jogam. E Herrera é isto, porque não procura linhas de passe, não roda o jogo para o flanco e oh inclemência e martírio, não age como capitão a procurar mostrar ao árbitro onde acha que errou. Mais uma acha para a fogueira das suas próprias vaidades.
(-) Danilo. É incrível que a sua capacidade física seja um portento de tal maneira fabulástico que o impeça de chegar até às bolas todas que quer. E é ainda mais inacreditável que funcione apenas como tampão físico e nem sequer tente recuperar defensivamente de uma forma que ajude o resto da equipa, porque várias vezes foi o único a recuar, estragando toda a união dos colegas em torno do mesmo objectivo. Vive para estragar o jogo dos companheiros. Inadmissível.
Ainda haverá hipótese de fazer alguma coisa decente neste campeonato? Não creio e já devemos ir tarde para essa missa, por isso é preciso começar a pensar no próximo ano. Com ou sem Petit, ou uma espécie parecida, no comando.
Link: