Ouve lá ó Mister – Boavista

Caro Rui,

Provavelmente não te lembrarás de mim. Afinal era só mais um dos muitos putos que te ia ver, a ti e aos teus colegas, quando Sir Bobby estava no lugar que agora vais mais uma vez ocupar. E lembro-me distintamente de um treino em que andava para lá com um ou dois amigos, a ver os nossos heróis a chegarem com os bólides a brilharem ao sol, enquanto procuravam um lugar para estacionar naquela zona por detrás do departamento de futebol do Estádio das Antas. Chegaste, com sorriso aberto e olhar terno e simpático, pronto para assinar autógrafos e saudar a miudagem. Saíste do carro, reparaste num grupo de putos que parecia um bom pedaço mais adulto que os outros e, enquanto olhavas em volta, carregaste no botão do alarme e afastaste-te da viatura a caminho do treino para impores os teus cento e sessenta centímetros no relvado secundário do complexo desportivo. Bons tempos, Rui, bons tempos.

Hoje tudo parece diferente. O ambiente mudou (oh, se mudou), os nomes são etéreos, digitais, ausentes e tão distantes desses grupos de miúdos que a única forma que têm de se aproximarem deles é através do vidro do carro enquanto trava para logo seguir disparado a sair do centro de estágio. Não lamento, apenas noto a nostalgia que não conseguirei nunca evitar. E hoje, contra estes mânfios da rotunda que há tantos anos nos lixam a vida naquele estádio (e até no nosso, como tu sabes tão bem), dão-te o comando da caravela cheia de furos e cravejada de escorbutos e outro tipo de infelicidades que se têm vindo a abater sobre nós.

Não espero que ganhes o jogo, só te peço que o tentes fazer. Faz com que os teus jogadores mostrem que estão com força para dar a volta a esta tremenda série negativa e que vamos conseguir sair por cima e continuar à procura do título. Ninguém te exige mais que isso, Rui.

Sou quem sabes,
Jorge

PS: já sei que estão à espera que fale do Julen. Fá-lo-ei durante a semana, quando a poeira assentar um pouco.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Rio Ave

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Mais de dezanove mil pessoas estiveram hoje no Dragão. Sofreram, tal como eu, com a inoperância ofensiva da equipa, que novamente mostrou que não o é. É um conjunto de jogadores atirados para um relvado com um plano imperceptível de abordagem a um jogo que se transformou numa trincheira do Soma, tal é a dificuldade que temos em saber o que fazer e como o fazer. Somos, neste momento, um alvo fácil para qualquer formação que nos apanhe pela frente porque entre a incapacidade no ataque, a má cobertura na defesa e a fragilidade do meio-campo, não somos uma equipa. Por muito que possam esticar a definição, não cumprimos os requisitos. E pagámos por isso. Notas abaixo:

(+) Maxi. Lutou muito, apesar de pouco produtivo. Foi dos poucos que, naqueles momentos Maxi de “sai da frente ou arranco-te os olhos com o dedo mindinho” em que arrisca o amarelo mal sai da posição, tentou por alguma forma tirar a bola aos jogadores do Rio Ave que passeavam alegremente no nosso meio-campo. Fê-lo sem grandes excessos mas pelo menos fez alguma coisa para combater a letargia que se apodera da equipa durante tanto tempo.

(+) Brahimi. Ele bem tenta…mas as coisas raramente saem bem. Mas tenta e não consigo tirar-lhe o mérito por pegar na bola e enfrentar dois, três, vinte adversários sozinho e sem movimentações de colegas que o ajudem a sair do poço onde infelizmente acaba por se enfiar. Algumas boas jogadas, pouco mais.

(+) O público, durante quase todo o jogo. Aguentaram-se bem (e eu, que como sempre gritei para os jogadores ao mesmo tempo que me forçava a aplaudir e incentivar as jogadas mais banais) até ao final da partida e a pressão psicológica que sofreram às mãos daqueles rapazes de azul-e-branco teve a resposta da bancada com aplausos sofríveis e quase ausência de assobios. Os sócios fizeram a sua parte, apoiaram Lopetegui e tentaram levar a equipa (ainda que timidamente) para diante. E eles, o que fizeram? Um manguito.

(-) Uma não-equipa liderada por um não-líder Ninguém acredita. Ninguém. Vê-se no olhar dos jogadores, na quantidade absurda de passes laterais que insistimos em fazer. Nota-se na atitude, no medo do meio e na busca das alas, na forma como vêem os adversários trocar a bola com incrível facilidade no nosso meio-campo sem que entendam como a tentar recuperar. A pressão, sôfrega e mal estrurada, aparece ao fim de uns segundos de tiki-taka-foda-se onde a bola rola e os olhos reviram. O ataque, ténue, delicado como um nenúfar a ulular na superfície de um bucólico lago estival, onde os remates tocam ao de leve na superfície das águas e deslizam para a sombria tristeza do rápido esquecimento. Os passes laterais, ah, esses malandros, que criam a matriz força/altura para que nunca seja resolvida pela mente humana como se de um paradoxo se tornasse. De Guaríns a Bolattis, é o que temos e a culpa não é só deles. Também é, porque são frágeis, porque não aprendem, porque não entranham as ideias do treinador. Quais ideias? Alguém vê uma onça de evolução na equipa? Reparam em trabalho feito durante a semana ao olhar para o campo? Notam as triangulações, os movimentos meticulosamente calculados, as desmarcações delineadas no papel e transferidas para a relva? Percebem os cantos sempre bem marcados em grande arco para a inevitável intercepção adversária? Ou será a subida de Maxi solitário pelo flanco? Ou Brahimi, quixotescamente enfrentando moínhos que afinal estão lá rijos e muitos? E Aboubakar, que tira o pé e corre só em zonas onde não precisa? Ou um meio-campo depauperado de força, alma, vitalidade e vontade de ganhar? É isto que o treinador transmite aos jogadores? E eles, ouvem-no? Um mudo a falar para surdos. Perdi mais um naco de alma hoje no Dragão.


Saí do Dragão com a cabeça baixa. Continuo sem conseguir perceber como vamos conseguir subir de produção e evoluir para um patamar aceitável. E com Lopetegui ainda menos.

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Vi o jogo todo no sábado com os dedos perto da boca enquanto tentava não roer as unhas. Não está a ser nada fácil ver a minha equipa a mostrar tão pouco em campo quando os rapazes prometiam tanto no início da época. Neste momento, apesar de estarmos em segundo lugar e quando alcançar o primeiro está tão perfeitamente ao nosso alcance, penso menos nisso do que em perder o que já temos. Sou um pessimista, Julen, que queres que te diga? E os últimos tempos têm sido pródigos em agravar esta minha condição de sofredor inveterado, garanto-te.

Mas continuo a acreditar. Oh, continuo! Nunca deixo de acreditar porque é isso que faz de nós vencedores. Se atirássemos os braços ao ar a clamar misericórdia de um qualquer Deus ao primeiro sinal de complicações, nunca teríamos chegado onde já chegámos. Este não será o primeiro sinal de que os trabalhos forçados estão aí próximos, mas não é também por isso que vamos desistir. Nunca, Julen! É lutar, forçar, acreditar e vais ver que consegues pôr esses rapazes a jogar em condições. Vou estar lá para aplaudir quando isso acontecer, tanto como estou para aplaudir o esforço e a dedicação. Como sempre foi e sempre será. Amen.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Sporting 2 vs 0 FC Porto

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Em primeiro lugar: perdemos bem. Não fomos assertivos na posse de bola, não fomos organizados como equipa, não fomos eficazes na frente e não fomos práticos atrás. Não fomos, no geral, uma equipa, ao contrário do que se viu do outro lado, onde onze homens formam um colectivo ao passo que os nossos onze são apenas isso: onze. Sem entrosamento, com pouca capacidade de criar como um conjunto, como um esquadrão de ataque, como uma equipa. Não somos uma equipa e nestes jogos, onde a inspiração individual não aparece, é ainda mais evidente a ausência dessa união. A notas que se faz tarde:

(+) Danilo. O único destaque positivo da noite de hoje esteve neste tanque que conseguiu adiar o que se foi tornando inevitável ao passar dos minutos. Lutou enquanto conseguiu perante um meio-campo entrosado que trocava bem a bola entre si e que apanhava um grupo de mocitos que de vez em quando treina e joga junto. Danilo foi a imagem da força que todos deveriam ter e se é titular no FC Porto acaba por ser por mérito próprio. Pouco conseguiu fazer de produtivo na frente mas tentou usar a força para controlar o meio-campo. Raramente teve sucesso, admita-se, mas não foi por falta de empenho.

(-) Equipa? Onde? Por onde começar? Pela organização do meio-campo, que permitiu ao Sporting vencer qualquer como 97% das segundas bolas? Ou pelas subidas de Corona e Brahimi que raramente recebiam apoio dos médios e que faziam com que os laterais os ultrapassassem em velocidade sem conseguirem receber as bolas em condições? Ou viremos para Maicon, mais uma vez Maicon contra o Sporting, a facilitar em demasia e a receber o eterno enfoque da realização depois do enésimo passe longo falhado ao que se segue o braço levantado a pedir desculpa aos colegas? Talvez possamos focar a atenção em Aboubakar, que falhou mais dois golos apenas com o guarda-redes pela frente? Ou em Maxi, que desde as constantes substituições à treinador de bancada não mais parece o mesmo a subir pelo flanco? Ou Ruben (et tu, moço) que toma decisões erradas quando se espera perfeição no passe? Ou Indi, que falha rotundamente na marcação do melhor marcador da Liga, ainda por cima com vários de cabeça na conta? Ou poderemos olhar novamente para o meio-campo, que foi o espelho da mesma zona na equipa contrária? Há tanto por onde pegar que se torna complicado perceber como é que um plantel tão bom, com tantas soluções, talento e experiência, não consegue apresentar-se em campo de uma forma consistente, entrosada e com a mecanização dos posicionamentos e desdobramentos e outros -mentos que se espera de um Fafe, quanto mais de um Porto. Juro que nunca vi o FC Porto tão bom jogar tão mal. Pior. Nunca vi o FC Porto jogar de uma forma tão desorganizada.


E assim largámos o comando do campeonato para aquela que é actualmente a melhor equipa de Portugal. Não tem os melhores jogadores, não sei se terá o melhor treinador, mas é notório que é a melhor equipa em campo. E contra factos, meus amigos…

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Ouve lá ó Mister – Sporting

Señor Lopetegui,

Ora viva e que sejas muito bem vindo a 2016, passado nesta que é a “tua” cidade. E olha que não há assim tantos que psosam dizer que tiveram o privilégio de ir todos os dias para o trabalho com esse equipamento vestido e esse emblema ao peito, por isso espero que acordes cada manhã a agradecer a qualquer que seja o Deus a que rezes (ou se não rezares, agradece a uma qualquer esfregona ou decanter ou lápis de cera, sei lá, cada qual tem a sua religião, mesmo que não a tenha) por esta honra que te foi concedida. Eu sei que lá no fundo tu percebes isso, mesmo que emanes aquele ar de quem cheirou carne podre sempre antes das conferências de imprensa. Não tem mal, um gajo vai aguentando essas merdices todas.

Mas o que não aguenta é que a tua equipa faça outra vez aquela sequência de estupidezes (estupidices? estupidagens?) como no ano passado. Sabes bem do que falo, porque as viagens a Lisboa bem que nos foderam o título e a moral e a alma e tudo, a começar pelo Estoril e pelo Sporting e continuando para o Benfica e o Belenenses. Todos esses nos enfiaram uma pilinha no rabinho e apesar de não tirarem os pontos todos, a verdade é que as nossas exibições foram sempre absurdas e deram-me vontade de me enfiar num tasco qualquer e pedir os rissóis de leitão que já devem estar ali praí há três semanas mas garanto que me podem fazer menos mal do que qualquer um daqueles confrontos. E hoje é a mesma coisa, Julen.

Estou com medo do que possa vir a acontecer hoje mas garanto que acredito que temos hipótese de ganhar o jogo. Não é decisivo mas já viste o que acontecia se estivesses à frente do Sporting por quatro pontos antes do final da primeira volta, especialmente no início deste mês que tem dois jogos por semana?! Era lindo, rapaz!

 

Sou quem sabes,
Jorge

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