Baías e Baronis – Dinamo Kiev 2 vs 2 FC Porto

foto retirada de MaisFutebol

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Fiquei uns bons dez minutos a ver o resumo do Chelsea depois de acabar de ver o FC Porto, em diferido como tem sido habitual nos dias que correm. E fiquei inerte, sentado num pufe na sala em frente à televisão, ainda a tentar perceber o que raio tinha acontecido e como é que pudemos ser tão anjinhos e deixar que aquele golo tivesse entrado no final de um jogo que não foi bem jogado e onde nem tínhamos feito assim tanto para o vencer, mas onde a haver um vencedor, provavelmente seríamos nós. Mas não fomos, por culpa própria. Vamos a notas:

(+) André. Foi o elo de ligação entre o meio-campo e o ataque e o responsável por sete ou oito orgasmos à Ray Hudson que o Freitas Lobo teve nos estúdios da SportTV. Tacticamente estupendo, a parecer omnipresente pela forma como surgia pelas duas alas e depois pelo centro, com altíssimo índice de produtividade e de trabalho feito. Terá confirmado a titularidade neste jogo e não imagino a equipa sem ele no próximo jogo. Especialmente contra quem vai ser.

(+) Aboubakar. Aproveitou na perfeição duas bolas que lhe apareceram pela frente, uma pelo ar e outra pela relva, com eficácia, sem brincadeiras nem invenções. É claramente um homem de golos bem mais “limpos” que Jackson e hoje, apesar de ter estado menos activo em jogo (não por ter trabalhado menos), acabou por ser decisivo.

(+) Layún a atacar. Solto, rápido e…destro, o novo lateral esquerdo titular do FC Porto faz o que poucos conseguem fazer naquela posição: sobe no terreno e inverte a direcção para se preparar para cruzamentos de dentro para fora de uma forma excelente e quase sempre bem medida. Precisa de melhorar a agressividade e o posicionamento defensivos, mas a subir pelo flanco é curioso ver a inversão do que era o trajecto habitual de Alex Sandro (começa no flanco e surge pelo meio em drible) e ver Layún a fazer o contrário com o outro pé. Um esquerdino que sai da esquerda para o meio e um destro que continua para a esquerda. O futebol é giro, é sim.

(+) O controlo do jogo na segunda parte. Apesar de não gostar de tácticas híbridas/adaptativas/coiso, a verdade é que conseguimos controlar bem o ritmo do jogo, especialmente na segunda parte. Herrera foi talvez o ponto menos bom porque Ruben esteve bem (tens de botar corpo, rapaz), Danilo eficaz e André a subir e descer mais vezes que o funicular dos Guindais, fazendo com que o mexicano fosse várias vezes apanhado a meio dos lances e com a tradicional lentidão a estragar tudo em várias ocasiões. O jogo estava controlado, só faltou tentar ganhá-lo com um bocadinho mais de audácia (ver abaixo).

(-) O centro da defesa. Ambos os golos surgem no centro do terreno e se o primeiro surge depois de uma jogada em que a bola passou por toda a gente (contei pelo menos cinco jogadores do FC Porto que não se anteciparam à trajectória da bola e a deixaram passar, ou pelas pernas ou ao lado delas), o segundo é uma infantilidade tremenda pela passividade com que ficaram a olhar para o lance, desde guarda-redes a centrais. Em jogos contra campeões dá nisto.

(-) Jogar para empatar dá empate. Sim, o jogo esteve controlado. Tirando uma ou duas bolas que o Dinamo enfiou na bola e um ou outro livre ou cruzamento, os ucranianos pouco fizeram para justificar marcar um golo que acabou por lhes cair do céu. Mas o que fizemos nós com tanta posse de bola? Pouco demais. Houve momentos em que nenhum dos homens do meio-campo sabia exactamente como haveria de furar os dez gajos de branco que lá estavam atrás, numa espécie de Arouca com melhor toque de bola que fez com que perdêssemos demasiadas bolas por passes falhados, entrosamento reduzido e fraca coordenação táctica. É normal, tendo em conta a quantidade de malta nova que por ali temos, mas nestes jogos nota-se um bom bocado quem já joga junto há algum tempo e quem ainda não sabe muito bem o que é que o colega do lado gosta de fazer em campo. Estamos num ponto simpático mas ainda falta muito trabalho. E tempo. E esse há sempre pouco.

(-) Casillas Fez uma estupenda defesa perto do final da primeira parte mas mostrou-se nervoso nas saídas e incapaz de ser afoito no comando da pequena área. Sim, da pequena área. Ficou demasiadas vezes na linha de golo à espera do que poderia acontecer e tem alguma culpa no segundo golo, para lá de uma bola que não agarrou no início do jogo e que deixou toda a gente a tremer na…you got it, na pequena área. Um guarda-redes com a experiência dele tinha de fazer melhor. E sim, diria o mesmo sobre Helton.


Um empate fora na Champions nunca é mau, mas este soube a derrota porque a segunda parte foi bem controlada e apesar de não jogarmos com acutilância ofensiva, podíamos e devíamos ter sacado três pontos em Kiev e empurrado a qualificação bem para a frente.

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Ouve lá ó Mister – Dinamo Kiev

Señor Lopetegui,

Yadda yadda hino yadda yadda arrepios yadda yadda de volta à elite yadda yadda espírito de 1987 yadda yadda recuperar o prestígio perdido em Munique yadda yadda mesmo na fase de construção da equipa yadda yadda ucranianos malucos yadda yadda a ver se o Brahimi volta a ser grande yadda yadda cuidado que hoje não há Marcano para tapar as subidas do Layún yadda yadda põe-te fino com o Derlis para não nos marcar como em Basileia no ano passado yadda yadda e o gordo no meio-campo é pôe-lo a bater panças com o Danilo yadda yadda nem vai estar assim tão frio à hora do jogo yadda yadda mísseis de Donetsk não chegam lá yadda yadda se tivéssemos o piçote do Celso que marcou aquele golo de livre yadda yadda claro que o Hulk não vai ver o jogo, nem é perto da terra dele yadda yadda era mesmo fixe ganhar isto yadda yadda para o Benfas ainda falta algum tempo yadda yadda manda o Maxi subir na mesma, carago yadda yadda o Abomba que esteja em bom dia yadda yadda e se o André lhes ganhou, o filho vai ganhar a dobrar yadda yadda sem luvas nem collants que isso é para bichonas yadda yadda o Casillas até podia ter 600 jogos na Champions, tem de defender na mesma yadda yadda não podem pôr Revigrés nas camisolas pelos bons velhos tempos yadda yadda ganhar é bom, empatar também não é mau yadda yadda pelo menos um criativo no meio-campo yadda yadda só depois pensas no jogo de Domingo!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Arouca 1 vs 3 FC Porto

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imagem retirada do MaisFutebol

 

Há dias em que tudo corre bem mesmo quando tudo podia correr mal. Um ervado foleiro, estreias em posições-chave, o equipamento branco (que é lindo mas que mantenho que nos dá azar, seja em que temporada for que o usemos), um árbitro que faz dos cartões o que um flasher de gabardine no parque faz da pila e um adversário lutador e bem preparado. E correu bem porque fizemos por isso, porque nunca desistimos dos lances divididos e mostrámos que jogando razoavelmente bem também conseguimos golos bonitos e jogadas de bom entendimento. Uma boa vitória. Vamos a notas:

(+) André. Quem disser que te pareces com o teu pai em campo só pode estar a falar da entrega e da força que mostra em cada lance que disputa, porque a subir no terreno não é nada como o “velhinho”. Jogou em duas posições diferentes hoje em Arouca, começando como médio “criativo”, deslizando para a ala esquerda depois da saída de Imbula, foi perfeito na forma como interligou a inteligência de Ruben Neves com a simplicidade de processos de Aboubakar, criando uma zona de transição da bola que fez com que até parecesse que tínhamos um número dez. Um Óliver de barba rija, por assim dizer. Duas assistências (uma delas depois de um remate que me faz salivar por mais momentos do género) e um jogo muito positivo.

(+) Aboubakar. Marcou um e falhou vários, mas esteve sempre em jogo e constantemente a aparecer em zonas de perigo e a “pedir” bolas para a finalização. Está a trabalhar muito bem quando recua no arranque da construção das jogadas e tem técnica com os pés, força com o torso e velocidade de raciocínio com a mona, tudo qualidades que lhe permitem continuar a manter Osvaldo no banco e André Silva na B. E parece mesmo um gajo porreiro pela forma como cumprimenta os adversários e lamenta as faltas que ocasionalmente faz. Um senhor, até agora.

(+) Corona. Não fez um jogo fantástico mas os dois golos mostram que aparece bem em zona de finalização e tem a calma para enfiar a bola lá para dentro. Boa capacidade técnica e velocidade elevada fazem com que este rapaz, com um relvado em condições e boa forma física, seja o extremo rápido que precisamos e que Tello, neste momento, não é. Faz lembrar um pouco o Alessandro, um rapaz que por cá passou nos finais dos anos 90 e que tinha uns pés maravilhosos e era rapidíssimo no drible, mas que infelizmente não teve grande sorte na continuação da época. Espero que o percurso de Corona seja bem diferente.

(+) Ruben Neves. Tem dezoito anos, aquele pirralho. E recebe a bola com elegância, passa-a com critério e organiza os lances ofensivos com uma perfeição que me faz pensar no que raio esteve na papa que comeu aqui há meia-dúzia de anos, ainda em cueiros. Não tem a força de Danilo mas traz algo muito mais importante: inteligência na construção do jogo. Quero vê-lo a jogar mais vezes e este tipo de rotação no meio-campo, quando os rapazes se entenderem melhor, vai ser imensamente proveitosa para o fluxo de jogo da equipa. É só esperar, vão ver.

(-) O flanco esquerdo. O entrosamento do flanco direito parecia nascido há alguns anos, com Maxi e Corona a trocarem bola com uma facilidade tal que deu a entender que jogavam juntos desde o berço. Olhando para o outro lado, nem Layun nem Brahimi tiveram um jogo positivo, o primeiro algo nervoso e pouco afoito nas subidas (melhorou para o fim do jogo) e o argelino sem conseguir ser prático nem produtivo. O tempo trará melhorias, estou certo disso, mas por agora é algo a rever.

(-) Imbula Brinca demais e apenas parece conseguir mostrar valor quando tem a bola nos pés, o que nem sempre vai ser possível. Uma falta idiota no final da primeira parte, mesmo à entrada da nossa área, podia ter dado o empate e complicado muito o jogo. Tem de estar mais concentrado durante as partidas.

(-) O irmão do Maicon Ora. Que puta de besta, física e moral. É mais um daqueles canastrões que chega cá com algum nome e se presta imediatamente a marcar a diferença pela estupidez. O encosto que deu em Marcano merecia pelo menos um amarelo (ó Capela, se dás amarelagem a toda a gente e não dás a este, não te queixes de questionarmos os teus critérios) e se vestisse outra camisola e estivesse no Dragão daqui a uma semana, dava origem a arremesso de isqueiros e pontapés à chegada ao túnel. E só se perdiam os que caíssem no chão.


Olha, o campeonato não vai parar mas há um jogo muito importante entre este que acabou e o próximo que dizem que é muito importante. Vamos a Kiev e só podemos esperar sair de lá com pontos. Um ou três, já depende da inspiração dos nossos rapazes. Zero é que não. Certo? Certo.

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Ouve lá ó Mister – Arouca

Señor Lopetegui,

Voltamos ao campeonato naquilo que parece uma pausa dos jogos das selecções, neste calendário que me intriga e me deixa tão desapontado pelo futebol se ter transformado neste processo infindável de macro-competições que só me lixam e não me trazem nada de interessante. O que eu gosto mesmo é de ver o FC Porto a jogar e finalmente vou poder fazê-lo de novo, numa terra onde tenho vários amigos e que é bem simpática. Dizem eles, porque só me lembro de ir para uma casa perto da Serra da Freita apanhar a nassa durante uma passagem de ano. Não deu sequer, no intervalo do álcool, de passear um bocadiho pelo burgo, mas cheira-me que também não vais ter grande hipótese de o fazer. Ao menos vais conhecer Arouca ou as suas imediações, ao contrário do Benfas que nem Aveiro conheceu porque o estádio fica no meio do nada. Mas divago.

Vi que deixaste o Silvestre de fora e depois do último jogo que o rapaz fez, não me espanta nada. Estou é bem esperançado no Corona que já vi a jogar pelo México e tem uns pezinhos bem simpáticos e é rápido e até pode vir a ser um jogador do carago se estiver motivado. Já reparaste que o Tello está naquela fase do “tira o pé que isto magoa”, por isso não te censuro se lhe deres uma hipótese.

E o Abomba na frente também acho que pode ser um gajo cheio de moral, mas não brinques com o moço. Fá-lo ver que nem todos os jogos vão dar para enfiar vários tentos no adversário, mesmo que se chame Arouca e o rapaz esteja habituado. É preciso fazer um jogo sério que estes gajos podem estar em terceiro mas não te podem meter medo. Sim, fizeste a ladaínha do costume, e eles são mais perigosos que uma mulher bêbeda com um cutelo, por isso preocupa-te mesmo com este jogo e deixa o Dínamo para a semana. Há tempo para tudo.

Sou quem sabes,
Jorge

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A camisola de 1921/22

1921-1922CP

Fui às compras no fim-de-semana. Tinha de ser. A cachopa cresce como musgo no lado norte de uma árvore e o que um dia parece grande acaba por deixar de lhe servir na semana seguinte e temo que a miúda, a este ritmo, consiga ganhar bolas de cabeça ao Maicon quando ainda não conseguir pronunciar os “éles” em condições. Assim sendo, dei um salto ao Corte Inglês (à tuga, porque essa merda de dizer inglés não me assenta bem), esgotadas que estavam os gostos e disponibilidades noutras lojas. Enquanto comprava um par de sapatos e me esforçava para me manter calmo enquanto a rapariga tentava diligentemente desfazer todo o trabalho de preparação visual dos items à venda por parte dos logistas, colocando sapatilhas em linha, puxando casacos dos expositores e arrancando meias dos manequins, ia pensando: “ainda não sei onde é a loja do FC Porto aqui neste tasco, tenho de a descobrir”. E lá descobri, a caminho da viatura, escondida por detrás de cinquenta mil maravilhosamente caros pedaços de nada, entre frasquinhos de perfume para gatos e lápis de cera com cores imaginárias (fuschia claro não é uma cor, não me fodam, ou é cor-de-rosa-Warrior ou não conta), com alguns cabides e uma banquinha para os funcionários.

Pus-me a ver o que havia e rapidamente descobri: as camisolas vintage que se vendem no Museu e que também ali havia, timidamente expostas numa zona lateral. Ao lado das novas, cheias de tecnologia e anti-perspirantes e pequenos saquinhos de morfina para as dores e sei lá o que raio mais conseguem enfiar em trezentas gramas de poliéster, havia réplicas de boa qualidade em algodão grosso à antiga, com detalhes curiosos e uma nostalgia quase palpável. Não hesitei, afinal já andava há algum tempo para adicionar uma à minha colecção (que continua simpática actualmente nas trinta e cinco vestimentas do meu clube) e escolhi a de 1921/22, que marcou a primeira vitória do FC Porto no recém-formado Campeonato de Portugal, que nos deu o primeiro título oficial a nível nacional. Tê-la nas mãos, segurar aquele pedaço de algodão que tão pouco tem de autêntico para lá do selo que o reserva como produto oficial mas que aparece quase cem anos depois de o ser, foi um momento quase sagrado, de homenagem, de vivência portista e de orgulho. Imagino-me no Campo da Constituição, a roçar-me na lama com os contactos físicos do foot-ball que era tão diferente e ao mesmo tempo tão similar. Gritava para os meus colegas, corria alegre a pedir a bola, deslizava feliz com um sorriso enorme por estar na mesma arena que imortais, perto dos Deuses sem q…até a pirralha chegar perto de mim e perguntar: “papá, tashacumpáracamijola?” e a magia transformou-se.

No fundo são estas pequenas coisas que fazem de um adepto de um clube alguém diferente dos outros mortais que acham que o futebol se reduz a correria e fotos no instagram. São estes pequeníssimos prazeres, estas memórias que não temos mas que aparecem naturalmente na nossa alma e que nos deixam felizes sem sabermos muito bem porquê.

NOTA: para lerem mais sobre esta primeira vitória, façam o favor de dar um saltinho à página do Paulo Bizarro, aqui. Garanto que não vão dar o tempo por mal empregue. Com ele raramente aconteceria, garanto.

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