
Se eu fosse treinador do FC Porto, quando chegasse ao balneário depois daquela primeira parte mandava untar os bancos todos com estrume e via a reacção dos meus jogadores. Aposto que alguns deles se sentava na mesma, de tão cansados e distraídos que pareciam estar depois de sair de quarenta e cinco penosos minutos em que pouco houve para se aproveitar. E depois veio a segunda parte, ainda pior. Não esperava grande coisa do arranque de temporada, a equipa ainda está sem entrosamento, com demasiadas falhas de posicionamento e capacidade criativa. Mas esperava um pouco mais de tino e concentração e hoje não vi nem uma nem outra. Valeu pelos golos. Notas já aqui em baixo:

(+) Maxi. *suspiro* Três jogos oficiais, três Baías para Maxi. Não surpreende quem o tem visto a jogar, especialmente pela diferença que tem mostrado em relação a grande parte dos colegas (ouviste, Tello?) e pela atitude que mostra em campo. Manda abaixo todos que ousavam vir a criticá-lo quando se esforça como se tem vindo a esforçar em lances quase perdidos e como aparece na área contrária a tentar o golo quando o extremo à sua frente parece menos talhado para o mesmo destino (OUVISTE, TELLO???). O número dois está bem entregue.
(+) Danilo. Sem inventar muito, usando bem o corpo (está aí uma boa alcunha para ele: “o corpo”) para proteger a bola e para a fazer rodar logo que possível. Ainda tentou várias incursões pelo meio-campo contrário, sempre inclinado para a direita (a rever, caso contrário começa a ser um lance “à Tarik”, sempre igual com resultados nem sempre positivos) mas raramente teve linhas de passe para criar perigo. Foi dos poucos que se safou.
(+) Casillas. Não teve muito trabalho mas teve duas intervenções importantes que fez com que a equipa continuasse sem sofrer golos no Dragão. Os guarda-redes de equipas de topo têm muitas vezes este papel ingrato de terem de ser 100% eficazes nas poucas vezes em que estão activos, sem haver margem para falha. Foi o que fez e segurou bem a vantagem.
(+) Estoril. Pressionou sempre alto, sem medo, com força e garra e intensidade tais que me envergonhou olhar para os nossos e perceber que não conseguiam manter-se a par dos amarelobranquinhos. É raro ver uma equipa tão interessada em tirar pontos ao adversário num estádio que teoricamente é complicado, por isso louvo o esforço.
(+) Lopetegui. Teve os cojones de mudar o esquema ainda na primeira parte e de retirar um dos mais produtivos bonecos de azul-e-branco que me lembro de ver a jogar e admitir que a experiência de colocar Brahimi a 10 não estava a funcionar. Nem sempre vejo um treinador a mudar quando vê que não está bem e gosto disso. Herrar é o mano.

(-) Os extremos. Tello mantém a sua forma de início de época que se equipara à do ano passado: é incapaz de fintar qualquer jogador que seja mais móvel que um ecoponto. Tão rápido quanto indeciso, raramente se atira para cima do defesa com propósito, com audácia de tentar passar por ele, levando a que o seu processo mental se torça num nó górdio que é incapaz de desatar. Do outro lado, o Silvestre, numa das piores exibições desde a galinha que foi atirada para perto do Roberto aqui há uns anos, foi incapaz de acertar passes, tabelinhas, amortecimentos, you name it. Pareceu a um certo ponto que lhe era complicado manter-se de pé, usar os polegares ou pôr água ao lume. Só faltou dissolver-se numa poça de água e esvair-se dali para fora. Assim percebo a putativa vinda de Corona: os que temos, se continuam assim, não chegam.
(-) A entrada na segunda parte No jogo contra o Guimarães escrevi isto: “Lentos, distraídos, com pouca movimentação no meio-campo e demasiadas hesitações na defesa, foi por nossa culpa que o adversário se impôs durante quase dez minutos e nos empurrou para uma sequência de perdas de bola e bolas paradas defensivas que, com o resultado em apenas 1-0, podia ter corrido mal. Agradeço à equipa ter-me poupado a criatividade de imaginar outras palavras para dizer exactamente o mesmo. E podia somar o resto da exibição, cinzentíssima, sem capacidade de percepcionarem o que deveriam fazer em campo de uma forma construtiva, optando constantemente pelo jogo lateralizado nem sempre bem feito. Houve mais que uma altura em que vi o meio-campo a formar uma linha vertical, com Danilo-Imbula-Brahimi a fazerem lembrar uma espécie de batuta basculante sem propósito nem organização posicional consistente. Foi muito fraco o jogo e muita pobre a exibição.
Pára o campeonato para mais uma absurda jornada de Selecções. Que ninguém se magoe e que voltem com mais cabeça e menos destrambelhamentos. E com o mercado fechado, já agora.
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