
Deixei assentar a poeira depois do fim-de-semana para ver como paravam as modas. O post anterior bateu o recorde de comentários aqui do tasco e não sendo nada que mereça uma celebração acima de um auto-high-five, sempre mostra que a malta está disposta a vocalizar o apoio e/ou a crítica nos fóruns por aí espalhados, nos quais me incluo com alguma dose de orgulho. E preocupa-me alguma da prosa que vou lendo.
Há um estranho imediatismo que se foi criando nos adeptos do FC Porto desde há alguns anos e que tenho vindo a acompanhar com um misto de curiosidade e desconfiança. E um bocadinho de nojo nalgumas circunstâncias, mas tento não o mostrar muito. E é uma sensação curiosa esta de ver um núcleo que habitualmente era tão unido e tão focado na busca de um objectivo comum a desagregar-se em guerriúnculas e picardias sobre figuras que noutras épocas, com outros nomes e outros passados, serviam como fonte de proximidade e harmonia.
Tomemos o exemplo do treinador, que se tornou uma entidade de discórdia tão grande que urge parar para pensar na forma como encaramos os lugares de chefia numa qualquer organização e na aparente necessidade de destruir a imagem e a capacidade de trabalho, de desprezar o dia-a-dia que qualquer um de nós dava um rim e dois dedos dos pés para poder partilhar, tudo para o bem de uma causa que parece menos comum a cada hora que passa. As decisões são contestadas com a volúpia de uma self-righteousness (não consigo encontrar um termo em português, perdoem-me o anglicanismo) que tolhe o pensamento. A frieza da análise desaparece perante o monstro devorador da vitória, da necessidade de angariar opiniões conjuntas que criem a ilusão que a massa funciona como um todo, onde a parte não é mais que um rolamento na máquina e está lá, robótica, para fazer o servo-mecanismo da equipa registar os rendimentos esperados. Desaparece o homem, foge a identidade pessoal, insulta-se porque sim e porque parece bem e porque eu bem disse que ia ser assim. Os jogadores são atirados para a fornalha como qualquer outro, mercenários nas derrotas e ilustres nas vitórias, incapazes no sofrimento e valentes no combate. Tornámo-nos na turba que tanto desprezámos durante anos a fio, maralhando aqui e além com o pin bem cravado no peito e a cartolina erguida com uma qualquer deambulação proto-poética que deveria transmitir o que pensamos mas só se ficar bem na televisão ou na visão pública. Esquecemo-nos da qualidade pela quantidade, desaparecemos num mar de diatribes e opiniões formadas com a opinião dos outros e abafamos a forma de ver as coisas pela crítica da forma como os outros as vêem.
Hoje em dia, ser portista tem de ser mais que isto. Tem de ser. Recuso-me a emitir declarações de uma síntese tão autoritária como tenho visto por essa bluegosfera, em que a coerência vale tanto como um saco de cebolas podres e o bater no peito parece tão vazio como a liteira do Schrödinger. E se continuarmos por este caminho … *sobe para um palanque no meio da praça* … vamos a caminho do abismo. Fundo, escuro, de onde não há saída a não ser após muitos e longos anos. Vamos aprender a aprender, vamos perceber os erros e corrigir as falhas, melhorando. Não há clubes perfeitos, não há sociedades utópicas, por muito que More tenha tentado fazer perceber que a hipótese seria real. Ou não.
Sejamos melhores pessoas. Sejamos melhores portistas. Novos ou velhos, não vai haver melhor altura.






